CONCORRÊNCIA ACIRRADA
A tendência é que o movimento diminua a distância do Brasil em relação ao mercado internacional. A previdência complementar representa 25% do PIB brasileiro, considerando planos abertos e fundos de pensão. Nos EUA, são 76%, e no Chile, 70%, de acordo com números da Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) compilados pela Mercer. Em países como Reino Unido, Holanda e Suíça, o percentual ultrapassa 100%.
– Há muito espaço para crescer, e a reforma vai ser um vetor importante porque traz o assunto para avidadas pessoas – explica Felipe Bruno, líder de Previdência da Mercer. A consultoria espera que a reforma acelere o crescimento anual do número de pessoas com previdência complementar (aberta e fechada) de 1,7% para 5% ao ano, chegando a 20 milhões em cinco anos.
– O brasileiro, que nunca teve cultura de previdência, vai ficar mais atento à necessidade de poupança de longo prazo quando constatar que a remuneração do INSS será menor que a atual – resume Gilvan Cândido, do MBA em previdência complementar da FGV. Já há sinais de aceleração. No Santander, o volume médio mensal captado para planos de previdência dobrou desde o ano passado, para R$ 900 milhões. Na BrasilPrev, do Banco do Brasil, o número de simulações de planos em seu aplicativo triplicou de janeiro a julho, em reação à tramitação da reforma, conta o presidente Walter Malieni. No ano passado, o BrasilPrev lançou produto com valor de entrada de R$ 100, para atrair investidores de renda mais baixa, e busca no aplicativo clientes mais jovens, de até 36 anos.
– Temos produtos com tíquete de entrada de R$ 30. Em 20 anos, não vai gerar uma fortuna, mas é um convite para a pessoa iniciara poupança de longo prazo – diz Victor Bernardes, do Santander. Os grandes bancos, que concentram 87% do patrimônio investido em previdência privada no Brasil, são o alvo principal de novos concorrentes. Gestoras independentes têm lançado fundos que prometem. “Há muito espaço para crescer, e a reforma traz o assunto para a vida das pessoas”
Felipe Bruno, líder de Previdência da Mercer resultados mais agressivos a taxas menores, enquanto o fenômeno de plataformas digitais com dezenas de fundos permite comparação direta entre os planos.
Desde 2007, o número de fundos saltou de 392 para 1.786, segundo a Economática, enquanto o total de gestoras passou de 45 para 124. A gestora digital Vitreo é uma das novas entrantes. Seu primeiro fundo estreou em outubro e fechou para captação em oito meses, atingindo patrimônio de R$ 1,1 bilhão. A fintech acaba de lançar um segundo produto e investiu em tecnologia para turbinara portabilidade – a legislação permite mudar de fundo a qualquer momento, sem pagar taxa ou imposto. Um aplicativo permite que o investidor fotografe o contrato com a seguradora de origem, e um software de reconhecimento de caracteres preenche o formulário de portabilidade, diz o diretor executivo Patrick O”Grady. – Há muito dinheiro nas mãos dos bancos rendendo pouco – diz Tito Gusmão, da fintech Warren, que passou a oferecer fundos de previdência em sua plataforma há dois meses, e lançará um fundo próprio no mês que vem. Hoje, 91% do patrimônio do segmento estão aplicados em fundos de renda fixa. Coma queda dos juros – que podem ficar abaixo de 5% em 2020, segundo projeções -, a tendência é que a renda fixa tenha rendimento cada vez menor. As gestoras apostam que haverá demanda crescente por fundos de maior risco e potencial de ganho, como os de multimercado. A Verde Asset, butique de fundos mais arrojados, viu o patrimônio do seu produto de previdência multimercado aumentar em R$ 3,8 bilhões em 12 meses. – Esperamos ser mais bem sucedidos em fazer os clientes correrem mais risco. Um afatia tão grande do mercado na renda fixa é um desperdício – afirma Marcelo Flora, do BT G Pactual Vida e Previdência, que está ampliando de 15 para 24 seu rol de fundos. Leonardo Lourenço, da Mongeral Aegon, observa que a competição levará a uma homogeneização desse mercado, em que o diferencial será justamente a rentabilidade maior. A seguradora investiu na criação de uma gestora própria para definir a estratégia de investimento de seus fundos. – A reforma foi um dos motivos que nos levaram a criar a seguradora, há três meses, já que o mercado tem imenso potencial de crescimento e está mal servido – diz Roberto Teixeira, da XP Seguros.
PLANOS PARA A FAMÍLIA
Existe também a expectativa de crescimento na quantidade de participantes nos fundos de pensão. Até pouco tempo, essas entidades estavam ligadas praticamente a categorias profissionais e funcionários de determinadas empresas. Mas a Abrapp, que reúne as fundações, tem estimulado a criação dos chamados “planos família”, que permitem a adesão de cônjuges e filhos. Já há no país 13 planos do tipo em funcionamento e outros três já autorizados, segundo a Previc, que regula fundos de pensão.
– Para o trabalhador, a vantagem é capitalizar para o futuro em um plano que não tem fins lucrativos, voltado para o resultado ao trabalhador. Para a fundação, ela está renovando sua massa de contribuições – sustenta Rodrigo Pereira, presidente da gaúcha Fundação CEEE, que foi pioneira nos “planos família” há oito anos. Hoje, 80% das novas adesões aos seus planos vêm de familiares de participantes. Se a reforma ajuda, sozinha, ela não fará o segmento crescer diante da lentidão econômica, pondera Lourenço, da Mongeral. Durante a crise, o segmento mais impactado foi o de planos privados oferecidos por empresas, já que muitas revisaram seus produtos ou reduziram suas contribuições, observa Luciano Snel, da Feder ação Nacional de Pr evidência Privada e Vida (FenaPrevi). – O brasileiro poupa no longo prazo quando tem sobra. A volta a um nível de expansão de 15%, 20% ao ano só se dará quando a economia voltar acrescer – diz Claudio Sanches, do Itaú Unibanco. (G1)